This one goes out to the one I've NEVER left behind



(Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)
Esquadros (1992)
Adriana Calcanhotto
Uma hora a gente joga, outra hora é a vez da vida jogar. É assim sempre. Mas, às vezes, a gente quer forçar a barra da vida, impor a ela nosso desejo, enquadrá-la à nossa pressa, determinar o seu tempo, ditar sozinho a ordem das cenas do grande roteiro. Acontece que a vida também é rio, é mar; está sujeita às correntezas, às luas, às tempestades, aos sóis, aos desígnios do vento e nos põe diante da sua verdade incontestável: ela flui. E nos cabe respeitar sua fluência. Por vezes é difícil aceitá-la. Então a literatura vem e ensaia a gente: quando esse livro começou a nascer, seu embrião tinha outro nome, Caderno abóbora. Pretendia esse ser um livro ensolarado, explodido de cores, matizes, com poemas nascidos de um caderninho laranja que tive, donde só saia poema bom. Organizei-o nessa viagem, cuja estrutura se concentrava na variação desse tema cor. Como um fruto que amadurece e passa do seu tempo de colheita, esse Caderno abóbora caiu na relva. Ficou lá, exposto às chuvas, às secas, invernos, geadas, verões intermitentes e às minhas mudanças. Enquanto isso, saiam da mesma árvore e na frente, livros para criança. O fruto ao cair partiu-se e partindo retornou ao seu estado de semente, se misturando de novo à velha terra. Silêncio sobre esse nome.
Enquanto isso a fábrica de poema trabalhava dia e noite sem parar e, quando pude me dedicar ao velho livro, cinco anos depois de sua idéia original, ele já era outro. É certo que não deixou de ser um livro de tons na sua ossadura onírica de cronos e cromos. Havia um espanto além das cores e havia também outros cadernos cheios de outros poemas que falavam ao meu coração, além daquele caderninho fértil. Aos poucos A fúria da beleza, mero nome de poema, foi virando o nome de um capítulo do livro. Dei uma saidinha e quando voltei ele já era o nome do livro e tinha tomado o poder. Caminhava desenvolto no escritório, nos banheiros, na sala, no quarto, na cozinha e me induzia, com força e doçura, a subjugar tudo a seu gosto e capricho.
Fui falar com o Conceito. Estava de costas pra mim, refestelado em sua cadeira, em seu trono de eixo. - Conceito, eu estive pensando...
Pois antes que eu acabasse de falar, ele gira veloz na cadeira de diretor, fica de frente pra mim e sua face já era outra. Era a face da Fúria da beleza.
Tarde demais, o nome já tinha já tinha tomado o conceito.
E do livro:
Cá estou para uma guerra inesperada
e dificil: lutar contra o meu amor,
o amor que eu sinto.
Puta que pariu!
Civil, despreparada
e desprovida de armas, pareço perder
de cara a empreitada.
Levanto da primeira derrubada
e o bicho já me golpeia certo no
diapasão; justamente o afinador dos fracos,
a bússola sonora
dos instrumentos de canção.
Me emudece, me desafina
ceifa rente meu braço de poema, e,
manca dele, procuro ainda alguma proteção.
Mais um golpe, estou no chão.
O amor caçoa então: quer morrer, danada, não vai lutar não?
Com o bico da chuteira da mágoa
desfiro-lhe dois golpes seguidos no queixo.
O amor ri: não doeu, nem senti!
Irada, engancho minhas pernas em seu
pescoço, tento as tesouras imobilizantes
que copiei das lutas da televisão.
(Que nunca gostei, será que prestei a devida atenção?)
O amor interpreta mal...
Ah, quer me seduzir? Enforcar, que é bom, não?
Eu nada falava, torcia pernas, me esgotava,
fremindo-lhe a cabeça entre as coxas.
Isto pra mim é trepada, boba!
Eu gosto do aperto, do cheiro da roxa
e de te ver roxa.
E gargalhava.
Cansada, humilhada e sem
munição, desmaio e me entrego:
pode me matar, amor
eu estou na sua mão.
O amor me olha de cima então:
querida minha, eis o segredo da esfinge
eis o problema diante da solução:
matar-te é matar-me
e matar-me é matar-te.
Se no chão do amor estava,
nesse chão continuei então.
Deitada sob o amor,
debaixo do amor,
no ringue do amor,
o amor me beijou,
me beijou, me beijou.
9 de Abril de 2005
Fonte: www.escolalucinda.com.br
Invisível
Música: Alzira Espíndola
Letra: Alice Ruiz
Poesia: Alice Ruiz
pessoas
com suas malas,
mochilas e valises
chegam e se vão
se encontram, se despedem
e se despem dos seus pertences
como se pudessem chegar
a algum lugar
onde elas mesmas
não estivessem
você se move
como se uma legião invisível
te aprovasse
você se vai
como se de longe
você mesmo
se chamasse
você me vem
como se só em mim
enfim
você em você
chegasse
FOME DE AMOR
Fernando Sabino
Quando um dos presos perguntava: “Mas afinal o que é que há com ele?”, logo surgia num sussurro a palavra terrível como uma condenação: “Mulher”. Alguém explicava que a namorada o abandonara, casando-se com outro. As circunstâncias em que se dera mais esse drama de amor, entretanto, e o local onde se realizaram os esponsais (na delegacia do 2º Distrito) não lhe inspiraram outra reação mais digna que tentar matar o rival à porta de um cinema – pelo que fora preso, depois de armar escândalo e levar uma boa surra.
– Tomaram a mulher dele e ainda bateram nele – informavam discretamente.
Com o tempo, começou a desaguar as mágoas no fluxo amargo das confidências. Fazia queixas patéticas: tratava-se de uma ingrata, malvada, perversa, sem coração.
– Em suma: uma grandessíssima vaca.
Depois sua revolta foi-se abrandando, com a lembrança de outros tempo mais felizes. Tornava-se meigo e lírico. Contou como se amavam e, num processo retrospectivo de recordações, ia-se afastando da traição sofrida, enquanto recompunha seus frustrados sonhos. Neles, a namorada se submetia a uma gradativa evolução de metáforas pela qual, de vaca que era antes, chegou a ser lírio, depois de ter sido sucessivamente estátua, crepúsculo, árvore e passarinho.
Para a indiferença mal disfarçada dos companheiros de prisão, narrava agora como fora o primeiro encontro:
– Foi de tarde. Uma tarde muito clara, o mar muito verde. Ela vinha vindo ao longo da praia, com um vestido leve, todo branco, os braços nus... Tinha os cabelos escorridos como de quem acabou de sair do banho. Sua pele era um pouco queimada de sol, mas não chegava a ser bronzeada, era assim de uma cor meio dourada, assim como a de um franguinho assado...
– Desses bem novinhos? – perguntou um dos ouvintes, já vivamente interessado.
– É isso mesmo – continuou ele, se entusiasmando: - Bem novinho, de espeto, e ainda com um resto de gordura. A pele bem esticada, muito fina, quase estalando.
– E o peito – acrescentou outro: - Bem cheio, recheado, com aquela carne muito branca.
– Perto da coxa, aquela parte mais torradinha...
Começaram a destrinchar o frango, famélicos, disputando cada um seu pedaço:
– A coxa. Eu gosto mais da coxa.
–A coxa é minha.
– E a asa – sugeriu um deles, olhar brilhante: - Vocês estão esquecendo a asa, pessoal: a gente puxa e ela desgarra, arrancando uns fiapos... É a melhor parte.
– É verdade, esquecemos a asa – continuava o rapaz, já esquecido de sua amada e apaixonado pelo frango: - A asa e o pescoço. O pescoço é uma parte que eu prefiro. Depois de arrancar a carne com os dentes a gente vai chupando os ossinhos um por um.
– Recheado com farofa, você disse.
– Com farofa e azeitona – arrematou outro, já de olho mole – De vez em quando a gente encontra uma azeitona sem caroço.
– Um frango assado dá trabalho para comer, mas como é bom! – concordaram todos já saciados.
O autor da feliz imagem, porém, quis ainda comer mais um pouco:
– Sempre sobra um pedaço de pele, bem torrada, daquela pelezinha de galeto muito tenra, meio arrepiada, que até parece pele de moça depois do banho.
De repente caiu em si, mas era tarde: a imaginação esfaimada já remexia no interior da namorada, fisgando aqui e ali os seus despojos, para descobrir finalmente a parte melhor:
– O coração! – exclamou. – Esquecemos o coração.
E numa boa dentada comeu para terminar o coraçãozinho do frango, que vinha a ser o da moça assim desamada, bem amargo este, e duro, com a dureza das ingratidões.
(In: A Companheira de viagem)
Foi a uma freada súbita do táxi, acompanhada de palavrões do chofer, que lhe deu o choque necessário e de súbito lembrara-se do nome do hotel. Disse-o ao chofer e imediatamente caiu num choro abafado de alívio e sofrimento.
Ulisses ouvira de testa franzida. E depois dissera:
— E então você não quis mais nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não esta sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito, Lóri. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com o meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei até você também estar mais pronta.
Lóri sempre se espantava de como Ulisses a conhecia. Mas apesar de ele poder compreender, receava sua censura ou de que ele desanimasse e a abandonasse, e nunca lhe dissera que o "mal" muitas vezes voltava: o ar dentro dela tinha então cheiro de poeira molhada. Vai recomeçar, meu Deus? Perguntava-se então. E reunia toda a sua força para parar a dor. Que dor era? A de existir? A de pertencer a alguma coisa desconhecida? A de ter nascido?
E depois, estancada a dor como se não tivesse sequer havido, exausta, após ter nadado quilômetros no universo vazio, ficara ofegante, jogava-se nas areias brilhantes de um planeta, imóvel, de bruços.
(Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector)
You walk alone in the valley of life
In the shadow of love under the trees of happiness
You walk alone like a baby unborn
Like a father unknown
Like a pocket penniless
I'm happy that you really care
But do you really know
How scary
This is for you and is for me?
Oh do you you really know?
Do you really know? oh..
Natasha
All I can do
Is write a song for you
Natasha
Oh Natasha
For you I sit alone on the cozy ground floor
On a bench by the garden
Waiting also
Waiting for love and thinking of all of the
Catty remarks I also swallow
And as I've often asked before
Does anybody know
How scary
This is for you and is for me?
Does anybody know?
Anybody know? oh...
Natasha
All I can do
Is write a song for you
Natasha
Oh Natasha
All I can do
Is write a song for you
Natasha
All I can ever be to you,
is a darkness that we knew
And this regret I got accustomed to
Once it was so right
When we were at our high,
Waiting for you in the hotel at night
I knew I hadn´t met my match
But every moment we could snatch
I don’t know why I got so attached
It's my responsibility,
and You don't owe nothing to me
But to walk away I have no capacity
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I’m grown
And in your grey
In this blue shade
My tears dry on their own.
I don't understand
Why do I stress a man,
When there's so many better things at hand
We could have never had it all
We had to hit a wall
So this is inevitable withdrawl
even if I stopped wating you,
A perspective pushes through
I'll be some next man’s other woman soon
Ah can I play myself again?
Or should I just be my own best friend?
Not fuck myself in the head with stupid men
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I’m grown
And in your grey
In this blue shade
My tears dry on their own.
So we are history,
Your shadow covers me
The skies above a blaze
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I’m grown
And in your grey
In this blue shade
My tears dry on their own.
I wish I could say no regrets
And no emotional debts
'Cause as we kissed goodbye the sun sets
So we are history
The shadow covers me
The sky above a blaze
that only lovers see
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I'm grown
And in your grey
My blue shade
My tears dry on their own.(whoa)
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I'm grown
And in your grey
My deep shade
My tears dry on their own
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I'm grown
And in your grey
My deep shade
My tears dry
Não sou escravo de ninguém
Ninguém senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz
Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais
Eu sou metal
Raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal
Eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal
Sabe-me o sopro do dragão
Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.
Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra
Tem a lua, tem estrelas
E sempre terá
Quase acreditei na tua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa
Quase acreditei, quase acreditei
E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo.
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.
Olha o sopro do dragão (4x)
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes
O corpo quer, a alma entende
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos
Eu sou metal - raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal: eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal: me sabe o sopro do dragão
Não me entrego sem lutar
Tenho ainda coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então
Tudo passa
Tudo passará (3x)
E nossa história
Não estará
Pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá
Vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora, ahh!
Apenas começamos.
Coisas que vi, li, ouvi ou que de alguma outra forma, senti.