This one goes out to the one I've NEVER left behind
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Show um pouquinho mais que perfeito!!!!
This one goes out to the one I've NEVER left behind
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
domingo, 10 de agosto de 2008
sábado, 7 de junho de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
Caio Fernando Abreu
Para Domingos LalainaJr.
Feito febre, baixava às vezes nele aquela sensação de que nada daria jamais certo, que todos os esforços seriam para sempre inúteis, e coisa nenhuma de alguma forma se modificaria. Mais que sensação, densa certeza viscosa impedindo qualquer movimento em direção à luz. E além da certeza, a premonição de um futuro onde não haveria o menor esboço de uma espécie qualquer não sabia se de esperança, fé, alegria, mas certamente qualquer coisa assim.
Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos - acordar, comer, caminhar, dormir, dentro dele algo permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos, olhos fixos na distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. E não seria verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que estava dentro do que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha ou não queria tê-las - vaga e precisamente de: A Grande Falta.
Era translúcida e gelada. Tivesse olhos, seriam certamente verdes, com remotas pupilas. À beira da praia certa vez encontrara um caco de garrafa tão burilado pelas ondas, areias e ventos que cintilava ao sol, pequena jóia vadia. Apertou-o entre os dedos, sentindo um frio anestésico que o impedia de perceber as gotas de sangue brotando mornas da palma da mão. Era assim A Grande Falta. Pudessem vê-lo, pudesse ver-se, veriam também o sangue, ele e os outros. Acontece que tornava-se invisível nesses dias. Olhando-se ao espelho, sabia de imediato que estava dentro Dela. No vidro, além dele mesmo, localizava apenas um claro reflexo esverdeado.
Ela estava tão dentro dele quanto ele dentro Dela. Intrincados, a ponto de um tornar-se ao mesmo tempo fundo e superfície do outro. Amenizava-se às vezes no decorrer do dia, nuvens que se dissipam, turvo de água clareando até o cair da noite surpreendê-lo nítido, passado a limpo, passado a ferro. Então sorria, dava telefonemas, cantava ou ia ao cinema. Mas em outras vezes adensava-se feito céu cada vez mais escuro, turvo agitado subindo do fundo, vidro bafejado. Sem dormir, fosforescia entre os lençóis ouvindo os ruídos da madrugada chegarem como abafados por uma grossa camada de algodão. Dissipava-se ou concentrava-se na manhã seguinte e, concentrando-se, não era uma manhã seguinte, mas apenas uma fluida e mansa continuação sem solavancos.
Seu maior medo era o destemor que sentia. Íntegro, sem mágoas nem carências ou expectativas. Inteiro, sem memórias nem fantasias. Mesmo o não-medo sequer sentia, pois não-dar-certo era o natural das coisas serem, imodificáveis, irredutíveis a qualquer tipo de esforço. Fosse íntimo das águas ou dos ares, teria quem sabe parâmetros para compreender esse quieto deslizar de peixe, ave. Criatura da terra, seu temor era quem sabe perder o apoio dos pés. E criatura do fogo, A Grande Falta crepitava em chamas dentro dele.
Sua invisibilidade no entanto não o invisibilizava: encadernava-o meticulosa em um determinado corpo e uma voz particular e uns gestos habituais e alguns trejeitos pessoais que, aparentemente, eram ele mesmo. Por isso não é verdade que não o veriam. Veriam e viam, sim, aquela casca reproduzindo com perfeição o externo dele. Tão perfeito que nem ao menos provocava suspeitas aumentando as pausas entre as palavras, demorando o olhar, ralentando o passo daquele falso corpo.
Atrás da casca, porém, o cristal incandescia. Debaixo da terra, fogo-fátuo soterrado tão profundamente que a pele nem reluzia.
Alguma coisa que jamais teria, e tão consciente estava dessa para sempre ausência que, por paradoxal que pareça, era completo nesse estado de carência plena. Isso acontecia apenas quando dentro Dela, pois ao desembarcar, em vez de sorrir ou fazer coisas, freqüentemente limitava-se a chorar penoso como se apenas a dor fosse capaz de devolvê-lo ao estágio anterior. A dor desconsolada e inconsolável, em soluços que o sacudiam cada vez mais fortemente, a cada um deles partindo-se a casca, quebrando-se a moldura, rachando-se o vidro, apagando-se o fogo.
Como uma outra espécie de felicidade, esse desembaraçar-se de uma também felicidade. Emerso, chafurdava em emoções: tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamurientas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausto, então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos, por vezes - quando o ensaio geral das emoções artificialmente provocadas (mas que um dia, em outro plano, aquele da terra onde, supunha, gostava de pisar, aconteceriam realmente) não era suficiente - povoado com répteis frios, a tentar enlaçá-lo com tentáculos pegajosos e verdes olhos de pupilas verticais.
Não saberia dizer com certeza como nem quando aconteceu. Mas um dia - um certo dia, um dia qualquer, um dia banal - deu-se conta que. Não, realmente não saberia dizer ao menos do que dera-se conta. Mas foi assim: olhando-se ao espelho, pela manhã, percebeu o claro reflexo esverdeado. Está de volta, pensou. E no mesmo instante, tão imediatamente seguinte que confundiu-se com o anterior, cantava, novamente ele mesmo. No segundo verso, pequena contração, tinha novamente entre os dedos o caco de vidro luminoso. Mas antes que a mão sangrasse, havia preparado um drinque, embora fosse de manhã, e bebia lento, todo intenso. Antes de engolir o líquido, seu corpo ganhou vértices súbitos, emoldurando o desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos abertas, olhos fixos na distância.
Foi um dia movimentado, aquele. Sua casca partia-se e refazia-se, entardecer sombrio e meio-dia cegante intercalados. Fumou demais, sem terminar nenhum cigarro. Bebeu muitos cafés, deixando restos no fundo das xícaras. Exaltou-se, ausentou-se. No intervalo da ausência, distraía-se em chamá-la também, entre susto e fascínio, de A Grande Indiferença, ou A Grande Ausência, ou A Grande Partida, ou A Grande, ou A, ou. Na tentativa ou esperança, quem saberia, de conseguindo nomeá-la conseguir também controlá-la.
Não conseguiu. Desimportou-se com aquilo. Tomado a intervalos pelo anônimo, atravessou a tarde, varou a noite, entrou madrugada adentro para encontrar a manhã seguinte, e outra tarde, e outra noite ainda, e nova madrugada, e assim por diante. Durante anos. Até as têmporas ficarem grisalhas, até afundarem os sulcos em torno dos lábios. Houvesse uma pausa, teria pedido ajuda, embora não soubesse ao certo a quem nem como. Não houve. Mas porque as coisas são mesmo assim, talvez por certa magia, predestinações, sinais ou simplesmente acaso, quem saberá, ou ainda por ser natural que assim fosse, e menos que natural, inevitável, fatalidade, trágicos encantos - enfim, houve um dia, marco, em que o tocaram de leve no ombro.
Ele olhou para o lado. Ao lado havia Outra Pessoa. A Outra Pessoa olhava-o com cuidadosos olhos castanhos. Os cuidadosos olhos castanhos eram mornos, levemente preocupados, um pouco expectantes. As transformações tinham se tornado tão aceleradas que, no primeiro momento, não soube dizer se a Outra Pessoa via a ele ou a Ela, se se dirigia à moldura, à casca, ao cristal ou ao desenho, ao corpo original, às gotas de sangue. Isso num primeiro momento. Num segundo, teve certeza absoluta que se tinha desinvisibilizado. A Outra Pessoa olhava para uma coisa que não era uma coisa, era ele mesmo. Ele mesmo olhava para uma coisa que não era uma coisa, era Outra Pessoa. O coração dele batia e batia, cheio de sangue. Pousada sobre seu ombro, a mão da Outra Pessoa tinha veias cheias de sangue, latejando suaves.
Alguma coisa explodiu, partida em cacos. A partir de então, tudo ficou ainda mais complicado. E mais real.
sábado, 29 de março de 2008
Cais
Elis Regina
(Milton Nascimento / Ronaldo Bastos)
Invento cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir
Eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
quarta-feira, 26 de março de 2008
Uma piadinha
O homem está na cozinha, fritando um ovo, quando a esposa chega e começa a gritar como uma louca:
- JOGA MAIS ÓLEO!!! JOGA MAIS ÓÓÓÓÓÓÓÓLEOOOOO!!!
- VAI GRUDAR NO FUUUUUUUNDO. .. CUIDADO!!! VIRA, VIRA, ANDA VIRA... RÁPIDO!!!
-VAI, CUIDADO! CUIDADO!!! VAI ESPIRRAR...! !!!!!!!
-PARECE QUE VOCÊ É LOUCO.
-VAI ENTORNAR... AI, MEU DEUS!
-O SAAAAAAAALLLLL! !!!! NÃO ESQUECE O SAAAAAAAAAALLLLLLLL !!!
O homem, irritado com os berros, pergunta:
- Por que é que você está fazendo isto?!? Você acha que eu não sei fritar um ovo?
E a esposa, bem calma, responde:
quarta-feira, 19 de março de 2008
Esquadros (1992)
Adriana Calcanhotto
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos
Expondo meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado
(Noemi Jaffe in "Lendo Música - 10 ensaios sobre 10 canções". Publifolha, 2008, São Paulo.)
O belíssimo ensaio de Noemi Jaffe se encontra completo aqui.
domingo, 16 de março de 2008
segunda-feira, 10 de março de 2008
Re-viver
Uma hora a gente joga, outra hora é a vez da vida jogar. É assim sempre. Mas, às vezes, a gente quer forçar a barra da vida, impor a ela nosso desejo, enquadrá-la à nossa pressa, determinar o seu tempo, ditar sozinho a ordem das cenas do grande roteiro. Acontece que a vida também é rio, é mar; está sujeita às correntezas, às luas, às tempestades, aos sóis, aos desígnios do vento e nos põe diante da sua verdade incontestável: ela flui. E nos cabe respeitar sua fluência. Por vezes é difícil aceitá-la. Então a literatura vem e ensaia a gente: quando esse livro começou a nascer, seu embrião tinha outro nome, Caderno abóbora. Pretendia esse ser um livro ensolarado, explodido de cores, matizes, com poemas nascidos de um caderninho laranja que tive, donde só saia poema bom. Organizei-o nessa viagem, cuja estrutura se concentrava na variação desse tema cor. Como um fruto que amadurece e passa do seu tempo de colheita, esse Caderno abóbora caiu na relva. Ficou lá, exposto às chuvas, às secas, invernos, geadas, verões intermitentes e às minhas mudanças. Enquanto isso, saiam da mesma árvore e na frente, livros para criança. O fruto ao cair partiu-se e partindo retornou ao seu estado de semente, se misturando de novo à velha terra. Silêncio sobre esse nome.
Enquanto isso a fábrica de poema trabalhava dia e noite sem parar e, quando pude me dedicar ao velho livro, cinco anos depois de sua idéia original, ele já era outro. É certo que não deixou de ser um livro de tons na sua ossadura onírica de cronos e cromos. Havia um espanto além das cores e havia também outros cadernos cheios de outros poemas que falavam ao meu coração, além daquele caderninho fértil. Aos poucos A fúria da beleza, mero nome de poema, foi virando o nome de um capítulo do livro. Dei uma saidinha e quando voltei ele já era o nome do livro e tinha tomado o poder. Caminhava desenvolto no escritório, nos banheiros, na sala, no quarto, na cozinha e me induzia, com força e doçura, a subjugar tudo a seu gosto e capricho.
Fui falar com o Conceito. Estava de costas pra mim, refestelado em sua cadeira, em seu trono de eixo. - Conceito, eu estive pensando...
Pois antes que eu acabasse de falar, ele gira veloz na cadeira de diretor, fica de frente pra mim e sua face já era outra. Era a face da Fúria da beleza.
Tarde demais, o nome já tinha já tinha tomado o conceito.
E do livro:
De Elisa Lucinda
Tatame
Cá estou para uma guerra inesperada
e dificil: lutar contra o meu amor,
o amor que eu sinto.
Puta que pariu!
Civil, despreparada
e desprovida de armas, pareço perder
de cara a empreitada.
Levanto da primeira derrubada
e o bicho já me golpeia certo no
diapasão; justamente o afinador dos fracos,
a bússola sonora
dos instrumentos de canção.
Me emudece, me desafina
ceifa rente meu braço de poema, e,
manca dele, procuro ainda alguma proteção.
Mais um golpe, estou no chão.
O amor caçoa então: quer morrer, danada, não vai lutar não?
Com o bico da chuteira da mágoa
desfiro-lhe dois golpes seguidos no queixo.
O amor ri: não doeu, nem senti!
Irada, engancho minhas pernas em seu
pescoço, tento as tesouras imobilizantes
que copiei das lutas da televisão.
(Que nunca gostei, será que prestei a devida atenção?)
O amor interpreta mal...
Ah, quer me seduzir? Enforcar, que é bom, não?
Eu nada falava, torcia pernas, me esgotava,
fremindo-lhe a cabeça entre as coxas.
Isto pra mim é trepada, boba!
Eu gosto do aperto, do cheiro da roxa
e de te ver roxa.
E gargalhava.
Cansada, humilhada e sem
munição, desmaio e me entrego:
pode me matar, amor
eu estou na sua mão.
O amor me olha de cima então:
querida minha, eis o segredo da esfinge
eis o problema diante da solução:
matar-te é matar-me
e matar-me é matar-te.
Se no chão do amor estava,
nesse chão continuei então.
Deitada sob o amor,
debaixo do amor,
no ringue do amor,
o amor me beijou,
me beijou, me beijou.
9 de Abril de 2005
Fonte: www.escolalucinda.com.br
domingo, 9 de março de 2008
Oh, what a world!
sábado, 8 de março de 2008
Invisível
Música: Alzira Espíndola
Letra: Alice Ruiz
Poesia: Alice Ruiz
pessoas
com suas malas,
mochilas e valises
chegam e se vão
se encontram, se despedem
e se despem dos seus pertences
como se pudessem chegar
a algum lugar
onde elas mesmas
não estivessem
você se move
como se uma legião invisível
te aprovasse
você se vai
como se de longe
você mesmo
se chamasse
você me vem
como se só em mim
enfim
você em você
chegasse
voz: Zélia Duncan
violão e voz: Alzira Espíndola
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Caos by Vivienne Westwood
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
FOME DE AMOR
Fernando Sabino
Quando um dos presos perguntava: “Mas afinal o que é que há com ele?”, logo surgia num sussurro a palavra terrível como uma condenação: “Mulher”. Alguém explicava que a namorada o abandonara, casando-se com outro. As circunstâncias em que se dera mais esse drama de amor, entretanto, e o local onde se realizaram os esponsais (na delegacia do 2º Distrito) não lhe inspiraram outra reação mais digna que tentar matar o rival à porta de um cinema – pelo que fora preso, depois de armar escândalo e levar uma boa surra.
– Tomaram a mulher dele e ainda bateram nele – informavam discretamente.
Com o tempo, começou a desaguar as mágoas no fluxo amargo das confidências. Fazia queixas patéticas: tratava-se de uma ingrata, malvada, perversa, sem coração.
– Em suma: uma grandessíssima vaca.
Depois sua revolta foi-se abrandando, com a lembrança de outros tempo mais felizes. Tornava-se meigo e lírico. Contou como se amavam e, num processo retrospectivo de recordações, ia-se afastando da traição sofrida, enquanto recompunha seus frustrados sonhos. Neles, a namorada se submetia a uma gradativa evolução de metáforas pela qual, de vaca que era antes, chegou a ser lírio, depois de ter sido sucessivamente estátua, crepúsculo, árvore e passarinho.
Para a indiferença mal disfarçada dos companheiros de prisão, narrava agora como fora o primeiro encontro:
– Foi de tarde. Uma tarde muito clara, o mar muito verde. Ela vinha vindo ao longo da praia, com um vestido leve, todo branco, os braços nus... Tinha os cabelos escorridos como de quem acabou de sair do banho. Sua pele era um pouco queimada de sol, mas não chegava a ser bronzeada, era assim de uma cor meio dourada, assim como a de um franguinho assado...
– Desses bem novinhos? – perguntou um dos ouvintes, já vivamente interessado.
– É isso mesmo – continuou ele, se entusiasmando: - Bem novinho, de espeto, e ainda com um resto de gordura. A pele bem esticada, muito fina, quase estalando.
– E o peito – acrescentou outro: - Bem cheio, recheado, com aquela carne muito branca.
– Perto da coxa, aquela parte mais torradinha...
Começaram a destrinchar o frango, famélicos, disputando cada um seu pedaço:
– A coxa. Eu gosto mais da coxa.
–A coxa é minha.
– E a asa – sugeriu um deles, olhar brilhante: - Vocês estão esquecendo a asa, pessoal: a gente puxa e ela desgarra, arrancando uns fiapos... É a melhor parte.
– É verdade, esquecemos a asa – continuava o rapaz, já esquecido de sua amada e apaixonado pelo frango: - A asa e o pescoço. O pescoço é uma parte que eu prefiro. Depois de arrancar a carne com os dentes a gente vai chupando os ossinhos um por um.
– Recheado com farofa, você disse.
– Com farofa e azeitona – arrematou outro, já de olho mole – De vez em quando a gente encontra uma azeitona sem caroço.
– Um frango assado dá trabalho para comer, mas como é bom! – concordaram todos já saciados.
O autor da feliz imagem, porém, quis ainda comer mais um pouco:
– Sempre sobra um pedaço de pele, bem torrada, daquela pelezinha de galeto muito tenra, meio arrepiada, que até parece pele de moça depois do banho.
De repente caiu em si, mas era tarde: a imaginação esfaimada já remexia no interior da namorada, fisgando aqui e ali os seus despojos, para descobrir finalmente a parte melhor:
– O coração! – exclamou. – Esquecemos o coração.
E numa boa dentada comeu para terminar o coraçãozinho do frango, que vinha a ser o da moça assim desamada, bem amargo este, e duro, com a dureza das ingratidões.
(In: A Companheira de viagem)
domingo, 10 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
LOVE by Cirque du Soleil
Something
The Beatles
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me
I don't want to leave her now
You know I believe and how
Somewhere in her smile she knows
That I don't need no other lover
Something in her style that shows me
I don't want to leave her now
You know I believe and how
You're asking me will my love grow
I don't know, I don't know
You stick around now it may show
I don't know, I don't know
Something in the way she knows
And all I have to do is think of her
Something in the things she shows me
I don't want to leave her now
You know I believe and how
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Carnaval ao som de Pet Shop Boys
We had too much time to find for ourselves
And we were never being boring
We dressed up and fought, then thought make amends
And we were never holding back or worried that
Time would come to an end
We were always hoping that, looking back
You could always rely on a friend
(Being Boring)
Foi a uma freada súbita do táxi, acompanhada de palavrões do chofer, que lhe deu o choque necessário e de súbito lembrara-se do nome do hotel. Disse-o ao chofer e imediatamente caiu num choro abafado de alívio e sofrimento.
Ulisses ouvira de testa franzida. E depois dissera:
— E então você não quis mais nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não esta sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito, Lóri. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com o meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei até você também estar mais pronta.
Lóri sempre se espantava de como Ulisses a conhecia. Mas apesar de ele poder compreender, receava sua censura ou de que ele desanimasse e a abandonasse, e nunca lhe dissera que o "mal" muitas vezes voltava: o ar dentro dela tinha então cheiro de poeira molhada. Vai recomeçar, meu Deus? Perguntava-se então. E reunia toda a sua força para parar a dor. Que dor era? A de existir? A de pertencer a alguma coisa desconhecida? A de ter nascido?
E depois, estancada a dor como se não tivesse sequer havido, exausta, após ter nadado quilômetros no universo vazio, ficara ofegante, jogava-se nas areias brilhantes de um planeta, imóvel, de bruços.
(Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector)
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Natasha
Rufus Wainwright
You walk alone in the valley of life
In the shadow of love under the trees of happiness
You walk alone like a baby unborn
Like a father unknown
Like a pocket penniless
I'm happy that you really care
But do you really know
How scary
This is for you and is for me?
Oh do you you really know?
Do you really know? oh..
Natasha
All I can do
Is write a song for you
Natasha
Oh Natasha
For you I sit alone on the cozy ground floor
On a bench by the garden
Waiting also
Waiting for love and thinking of all of the
Catty remarks I also swallow
And as I've often asked before
Does anybody know
How scary
This is for you and is for me?
Does anybody know?
Anybody know? oh...
Natasha
All I can do
Is write a song for you
Natasha
Oh Natasha
All I can do
Is write a song for you
Natasha
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Tears Dry On Their Own
Amy Winehouse
All I can ever be to you,
is a darkness that we knew
And this regret I got accustomed to
Once it was so right
When we were at our high,
Waiting for you in the hotel at night
I knew I hadn´t met my match
But every moment we could snatch
I don’t know why I got so attached
It's my responsibility,
and You don't owe nothing to me
But to walk away I have no capacity
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I’m grown
And in your grey
In this blue shade
My tears dry on their own.
I don't understand
Why do I stress a man,
When there's so many better things at hand
We could have never had it all
We had to hit a wall
So this is inevitable withdrawl
even if I stopped wating you,
A perspective pushes through
I'll be some next man’s other woman soon
Ah can I play myself again?
Or should I just be my own best friend?
Not fuck myself in the head with stupid men
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I’m grown
And in your grey
In this blue shade
My tears dry on their own.
So we are history,
Your shadow covers me
The skies above a blaze
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I’m grown
And in your grey
In this blue shade
My tears dry on their own.
I wish I could say no regrets
And no emotional debts
'Cause as we kissed goodbye the sun sets
So we are history
The shadow covers me
The sky above a blaze
that only lovers see
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I'm grown
And in your grey
My blue shade
My tears dry on their own.(whoa)
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I'm grown
And in your grey
My deep shade
My tears dry on their own
He walks away
the sun goes down,
He takes the day but I'm grown
And in your grey
My deep shade
My tears dry
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Volver a los 17
Metal Contra As Nuvens
Legião Urbana
Renato Russo
Não sou escravo de ninguém
Ninguém senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz
Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais
Eu sou metal
Raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal
Eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal
Sabe-me o sopro do dragão
Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos.
Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra
Tem a lua, tem estrelas
E sempre terá
Quase acreditei na tua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa
Quase acreditei, quase acreditei
E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo.
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo.
Olha o sopro do dragão (4x)
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes
O corpo quer, a alma entende
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos
Eu sou metal - raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal: eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal: me sabe o sopro do dragão
Não me entrego sem lutar
Tenho ainda coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então
Tudo passa
Tudo passará (3x)
E nossa história
Não estará
Pelo avesso assim
Sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá
Vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora, ahh!
Apenas começamos.